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Um Caminho para a Identidade Humana e Cristã - Parte I
Trechos da palestra proferida na PUC-SP em 05 de março de 2009
Dom Bernardo Bonowitz

Dom Bernardo Bonowitz, formado em Letras Clássicas no Columbia College de Nova York, em 1970, é abade do Mosteiro Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do Tenente (PR). É conhecido internacionalmente por seus artigos e livros sobre São Bernardo, Thomas Merton e Jean Armand de Rance. É ainda autor de vários livros sobre espiritualidade monástica.

São Bernardo de Claraval considera que todo ser humano, ao longo de sua vida, se depara com três amores “inevitáveis”: o amor por si mesmo, o amor pelo outro e o amor a Deus. O caminho ascético que unifica esses três amores é um caminho para a construção da identidade pessoal de cada um.


[...] Como um de seus mestres, S. Agostinho, Bernardo [Nota do editor: São Bernardo de Claraval (1090-1153), monge e teólogo cistirciense] sempre viu a realidade como algo pessoal e relacional – poderíamos dizer, ele sempre experimentou o elo com a realidade como um elo de amor. O mundo das coisas, e mesmo o mundo da natureza, interessavam-lhe pouco. O que o cativava era a vivência por parte do ser humano de três amores “inevitáveis”. Para Bernardo, há três amores inevitáveis porque há três pessoas com as quais estamos sempre e inescapavelmente em relação: eu mesmo, o outro e Deus. Nenhuma destas relações pode ser sacrificada, nenhuma delas deveria ser preferida à outra. É uma questão de se viver cada uma destas relações na verdade, e, de fato, cada uma destas relações tem um tipo particular de verdade e pede um tipo particular de ascese.

Comecemos com a relação eu-eu, que para S. Bernardo é sempre o ponto de partida. Para ele é claro que todos os nossos relacionamentos são altamente influenciados pela nossa experiência de nós mesmos. Todas as nossas outras experiências pessoais são filtradas através da experiência que temos de nós mesmos. É por isto que uma experiência purificada de si mesmo – uma experiência de nós mesmos na verdade – é tão inestimável. Até que atinjamos a verdade sobre nós mesmos, jamais tocaremos a verdade de nosso próximo, nem a verdade de Deus.

Quais são as práticas que nos levam à verdade de nós mesmos, a ser presentes a nós mesmos “em espírito e verdade”? Há muitos textos nos quais S. Bernardo insta seus monges a praticarem certa austeridade física e muitos aonde ele os encoraja a não se desanimarem por causa dos rigores da vida monástica. Mas de fato, para Bernardo, a ascese que conduz ao encontro com o eu tal como ele genuinamente é, é a interioridade. Seu conselho mais básico para aqueles que querem “se encontrar” é de fazer tudo para não fugirem de si mesmos. Podemos ver isto como o centro do voto monástico de estabilidade. Alguns monges tem a estabilidade na sua cela (cartuxos), outros no claustro do mosteiro (cistercienses), alguns permanecem na sua comunidade de profissão até a sua morte, e outros vão a qualquer mosteiro da ordem para o qual sejam enviados, mas em todos estes casos, o propósito da estabilidade é o de unir-se a si mesmo. S. Gregório Magno descreveu famosamente a S. Bento como o homem que habitavit secum – que vivia consigo mesmo – e esta não é uma tarefa fácil ou automática. Estar presente a si mesmo normalmente gera desconforto e o desejo de se tirar férias do conhecimento de si mesmo. Entretanto, como já foi dito, o objetivo primeiro de todas as práticas monásticas é a experiência da própria verdade. Concretamente, como chegar lá? Através das práticas de silêncio e solidão, através da leitura de textos sagrados e da oração. Acima de tudo, através da recusa de abandonar a si mesmo através da curiositas. Cada xeretada desnecessária fora de nós mesmos é uma distração que freia e que torna menos efetivo o processo de se ir ao encontro da própria verdade. Vocês poderiam perguntar: “E o que dizer da minha responsabilidade para com meu próximo e a sociedade?” Nós dois, Bernardos, respondemos em uníssono: “Paciência”. Isto fica para mais tarde.

[...] O primeiro motivo pelo qual nos submetemos a uma disciplina e deixamos a distração de lado como estilo de vida é para nos conhecer a nós mesmos como somos – nobres e vis, capazes de tudo (mysterium sanctitatis et iniquitatis) – e de descobrir que este conhecimento é salvífico – porque é o Cristo espelhando-se em todos os cantos de nosso ser interior.

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