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Estrelas-guia: uma reflexão sobre o caso de Marcela
Cláudio Fonteles

Cláudio Fonteles é advogado, foi professor de Direito na UnB e procurador-geral da República.


A sobrevivência da menina Marcela de Jesus Galante Ferreira, portadora de anencefalia, pode ser vista com escândalo e negatividade ou com alegria e positividade, dependendo da liberdade e da humanidade do observador.


A jornalista Adriana Dias Lopes, na edição da revista Veja do dia 15 de agosto passado, a propósito da menina Marcela de Jesus Galante Ferreira, faz desfilar expressões como “a menina sem estrela” (título da matéria); “cruel anomalia congênita”; “jamais ter sentido o toque das mãos da mãe”; “resignação própria de católicos fervorosos”; “Marcela não viverá muito mais”; e conclusiva: “Casos como o de Marcela certamente seriam incluídos nos protocolos de eutanásia na Holanda, diz o pediatra alemão Roberto Wüsthof. Não faz sentido ser diferente. É como se ela fosse um computador sem processador”.
Aí está: “É como se fosse um computador, sem processador”.

Esta é a frase, matriz eloqüente de setores empresariais, políticos e midiáticos, que querem impor o stablishment mecanicista. O stablishment que reduz a vida humana a algo aferível, coletiva e funcionalmente: “não faz sentido ser diferente”. Todos nós devemos conformarmo-nos ao padrão ditado pela eficiência, que produz ganho quantificado.

Nessa sociedade, informatizada por tais pilares, o pobre, o deficiente, o velho não contam.
À observação de Cacilda, mãe de Marcela, a dizer: “Minha filha é muito carinhosa. As pessoas ficam tão encantadas com ela que não ligam para o formato de sua cabecinha”, a jornalista Adriana Dias Lopes sentencia, definitivamente: “As reações esporádicas de Marcela aos afagos da mãe, como um meio sorriso que esboça vez por outra, são resultados de reflexos involuntários que não precisam necessariamente passar pelo cérebro”.

A vida humana, única e irrepetível, não se mensura em economia de escala, não é linear, de modo que sejamos todos nós, mulheres e homens, embriões, fetos, crianças, velhos, vistos como no traçado imperturbável de uma linha reta. A vida humana não é assim.

Complexa, surpreendente, imprevisível não permite que seja aprisionada na pura sistematização racionalista.
Complexa, surpreendente, imprevisível traça na história o marco de seu ineditismo.
“Foi para a liberdade, que eu vos fiz livres”, ou seja, temos todos em nós o chamado à transcendência – movimentar-se para o alto -, rompendo com os esquemas traçados pela mentalidade egocêntrica, hoje tão em voga.

Ontem, dia 19 de agosto, brasileiras e brasileiros, irmãs e irmãos das Américas, atletas todos do Parapan, encerraram uma semana de eloqüente demonstração no sentido de que a deficiência, no ser humano, não se constitui em óbice, porque viver é ultrapassar limites: “foi para a liberdade, que eu vos fiz livres”.
A Marcela, jornalista Adriana Dias Lopes, é mesmo uma “menina sem estrela”, porque ela, e todos os que são, sob as mais variadas justificativas, ou estão, mutilados, deformados são, todos, ela e eles, estrelas-guia para os que ainda conseguem admirar, conseguem comover-se, conseguem ser livres para a liberdade.

Para entender melhor, leia:

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Canção Nova Notícias

A menina sem estrela
Revista Veja

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