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Três versões para uma tradução
Textos de Marcelo Musa Cavallari, Giovanni Vecchio e Reinaldo Azevedo
 

Na época que foi traduzida a exortação apostólica Sacramentum Caritatis, houve uma intensa discussão sobre o uso adequado ou não da palavra “praga” na versão em português. O leitor encontra, a seguir, três explicações algo diferentes para o problema. Após ler todos os argumentos, não terá dificuldade de se posicionar sobre ele...

A frase do papa sobre o segundo casamento é a que mais tem gerado comentários de leitores. Para tentar resolver de uma vez por todas se o papa disse ou não que o segundo casamento, segue-se uma pequena análise das versões do documento em que a frase apareceu. Embora Bento XVI seja fluente em várias línguas, especialmente o latim e o italiano, prefere escrever em alemão, sua língua materna, para depois ser traduzido. O Vaticano divulgou a exortação apostólica Sacramentum Caritatis em sete línguas: latim, italiano, francês, inglês, espanhol, português e polonês. Na versão oficial do texto em alemão divulgada pelo Vaticano, provavelmente aquela que o papa em pessoa escreveu, a palavra usada para caracterizar o segundo casamento é “plage”. Significa “praga”. Não pode significar chaga. É a palavra usada na tradução alemã da Bíblia para falar das pragas do Egito. Na Bíblia em latim usa-se, para as mesmas pragas do Egito, a palavra “plaga”, exatamente o termo que consta da versão latina de Sacramentum Caritatis. “Plaga” deu origem à palavra “piaga”, usada na versão italiana do documento para falar do segundo casamento. “Plaga”, originalmente, significava em latim “golpe”, “pancada”. Daí passou a significar a ferida causada pelo golpe ou, por metáfora, qualquer desgraça ou catástrofe. A Bíblia da Conferência Episcopal italiana usa “piaga", para falar das pragas do Egito. Dessa forma, embora a palavra italiana “piaga”, assim como a latina “plaga”, possa ter o sentido de “chaga” em português, não foi nessa acepção que ela foi usada no documento. Em inglês, o termo usado na tradução do Vaticano foi “scourge”. A melhor tradução em português para “scourge” seria “flagelo”. Em hipótese nenhuma poderia significar “ferida”. A versão francesa usou “plaie”, que também tem os dois sentidos de ferida ou flagelo. Em espanhol, o tradutor do Vaticano escolheu a palavra “plaga” e não “llaga”. Ambas derivam do latim “plaga”. Por fim, a tradução oficial do Vaticano em português usa o termo “praga”. Nâo há mais o que discutir.

Marcelo Musa Cavallari, editor internacional da Revista Época, em http://www.epoca467.globolog.com.br/.

Venho explicar as razões pelas quais se deve ler corretamente "praga":

1) O texto oficial em português no site da Santa Sé traz "praga".
2) O termo não é usado no texto para rotular negativamente as pessoas, mas para indicar o fato do divórcio seguido de novas núpcias, enquanto vai se tornando também mentalidade e costume "nos ambientes católicos".
3) O contexto imediato da frase evoca o fenômeno que ocorre na lavoura: uma doença que "vai progressivamente corroendo" (observação que foi levantada e bem percebida pelos meus alunos em sala de aula, bem como pelos fiéis leigos de uma paróquia da zona rural aos quais apresentei o texto).
4) O mais importante: o Papa não está dizendo nada de novo e diferente daquilo que desde 1965 já se encontra no Concílio Vaticano II: o divórcio é definido "peste" na Constiuição "Gaudium et spes", nº 47.

Um abraço
Giovanni Vecchio, teólogo


Cantei a bola ontem na nota “Rosa, rosae, rosam”, das 21h30, e batata! Os três grande jornais do país devem uma correção a seus leitores. Atribuíram ao papa Bento 16 o que ele não disse e deixaram de informar o que ele disse. O erro se deve a um falso cognato — terror dos tradutores —, mas não teria se espalhado de maneira uniforme não fosse o preconceito de que são vítimas o próprio papa e a Igreja Católica.
Explico-me. Conforme se podia ver no site do Corriere della Sera já no começo da noite, Bento 16 havia dito que o segundo casamento era “una vera piaga” para os cristãos. “Piaga” quer dizer “chaga”, “ferida”, jamais “praga”, como se traduziu no Brasil. Manchete da Folha: “2º casamento é uma praga, diz papa” — não diz. “Papa chama segundo casamento de praga social”, afirma o Estadão na primeira página — não chama. “Para Bento XVI, 2º casamento é ‘praga’”, informa O Globo na página 29 — não é. Uma das orações de São Bernardo para alcançar uma graça diz assim: “Dilettissimo Signore mio Gesù Cristo, mansueto Agnello di Dio, io povero peccatore Ti adoro e considero la dolorosissima piaga (...)” É uma referência à “dolorosíssima chaga” de Jesus Cristo, jamais à sua “dolorosíssima praga”. O que não ficaria nem bem...
É claro que erros acontecem. Não estou satanizando ninguém. A minha suposição, no entanto, é que a instituição e a personagem ajudaram a induzir os jornalistas ao erro. Da Igreja Católica, o laicismo espera sempre as piores coisas. De Bento 16, “um reacionário”, como eles dizem, idem. Se o papa disse “piaga”, só pode ter querido dizer “praga”.
“Piaga” — a chaga — é um termo que tem peso religioso específico. A indissolubilidade do casamento, para a Igreja Católica, remete à inquebrantável união de Cristo com a sua Igreja. Por isso, diz o papa, o segundo casamento, posterior ao divórcio, é uma “piaga”, uma chaga, um suplício, um tormento, um sofrimento para os cristãos. A exemplo do que foram para Cristo as chagas que o mataram.
Não descarto que as pessoas achem tudo isso uma besteira. Cada um na sua. Mas não custa ouvir, por razões puramente jornalísticas, com um pouco menos de preconceito o que afirma o papa. Quando menos, para que ele possa responder pelo que disse, não pelo que não disse.
Reinaldo Azevedo , jornalista, em http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/ , 14 de março de 2007

 


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