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BOLETIM CLÍNICO - número 20- julho/2005

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos


7. Psicanálise e Sociedade: Grupo de Mães e Crianças em Intituições

Esta apresentação diz respeito ao desenvolvimento de dois trabalhos de intervenção clínico institucional. Um foi realizado com um grupo de mães no Ambulatório de Pediatria da UNIFESP, que atende a uma população carente da região de São Paulo. E o outro, com um grupo de crianças que participam de programas sócio-educativos numa ONG da região da Vila Leopoldina.

A proposta no ambulatório se deu pela demanda do setor de saúde mental de que inúmeras mães necessitavam de orientação e ajuda terapêutica. O objetivo para este grupo era o de oferece a elas um espaço para escuta analítica resgatando o contato com a família, trabalhando as queixas, angustias e ansiedades oriundas deste convívio.

Já na ONG o grupo surgiu a partir da queixa das educadoras de que algumas crianças não estavam se adaptando às atividades propostas em sala de aula. A partir disto foi montado uma oficina terapêutica com o objetivo de fazer desta um espaço lúdico, de criação e de possibilidade de expressão, onde as crianças poderiam adquirir confiança e construir esquemas que facilitassem o envolvimento delas com o aprender, pois parecia que de fato havia uma barreira para tal.

Cada trabalho tinha encontros semanais. No ambulatório, além do trabalho com as mães, as crianças participavam de um grupo coordenado por outra terapeuta. Na ONG as mães e crianças foram atendidas separadamente pela mesma terapeuta.

IMPASSES DO GRUPO:

Um fato que marcou ambos os trabalhos, foi a dificuldade de formar o grupo de mães. No início, foi complicado conscientizar as mães da importância de participarem das sessões.

No grupo do ambulatório tivemos um maior desempenho e comprometimento. Havia uma freqüência de trabalho e até mesmo um certo entendimento por parte das mães de que o problema do filho tinha muita relação com as suas próprias ansiedades. Já no grupo da ONG, as freqüências não eram tão constantes. Era muito difícil fazer com que estas mães percebessem que a dificuldade escolar do filho poderia também ser um reflexo de um desequilíbrio ou falta de apoio em casa. O interessante foi perceber que nos dois trabalhos as crianças que tinham os pais menos envolvidos eram as que apresentavam os problemas mais graves.

A partir disto, foram levantadas as seguintes questões: o que aconteceu em ambos os trabalhos? Por que foi possível conscientizar as mães em um grupo e em outro não?

Será que o fato das mães terem que levar os filhos para a consulta pediátrica no mesmo dia do grupo facilitava o engajamento?

Será que a falta de disposição interna e dedicação pessoal contribuiu para o não envolvimento com o trabalho?

Será que o fato de os filhos estarem sendo assistidos por profissionais não as isentaria da responsabilidade materna?

Estas questões nos fazem pensar se só o trabalho com as crianças é útil. Para muitos pais pode ser que sim.

Analisando os dois trabalhos, uma das temáticas mais recorrentes dizia respeito às queixas escolares. No convívio com os grupos, percebemos um certo descompasso entre mães e professores. Talvez esta desarmonia tenha sido passada para as crianças, criando obstáculos entre o professor e seu aluno.

Um outro ponto que ambos os grupos também abordavam, era a exigência da escola. As crianças eram constantemente cobradas a fazer tarefas exaustivas que não condiziam com sua faixa etária tirando da criança a liberdade de criação, de brincar e aproveitar mais o espaço escolar.

Com o desenvolvimento do trabalho, os dois grupos, de mães e de crianças, foram se conscientizando de que poderiam ter um melhor canal de diálogo com os professores. As mães mostrando suas insatisfações e discutindo melhorias e as crianças solicitando ajuda.

Apesar de todas as dificuldades encontradas com os grupos, houve uma perspectiva de melhora para cada um, independentemente do engajamento.

No cotidiano dos encontros, cada grupo foi mostrando sua particularidade e foram capazes de trocar experiências, descobrindo assim muitas diferenças e semelhanças.

Ambos os trabalhos foram enriquecedores, e como profissionais pudemos perceber que é impossível ser totalmente neutra em algumas situações, não se envolver é complicado e exige muita supervisão e auto-análise.

Um dos maiores objetivos em qualquer trabalho, seja individual ou em grupo, é fazer com que cada pessoa siga seu próprio caminho de forma harmoniosa, percebendo que pode ser capaz de fazer da crise uma possibilidade de transformação