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BOLETIM CLÍNICO - número 18 - setembro/2004

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos



22. OP - Orientação Profissional Via Internet - Evolução do Programa

Um primeiro relato sobre a fase de desenvolvimento inicial do programa de Orientação Profissional via Internet foi publicado no número 12 deste mesmo Boletim Clínico , logo após sua apresentação na XXXI Reunião Anual de Psicologia da Sociedade Brasileira de Psicologia - realizada no Rio de Janeiro em outubro de 2001. Conforme descrição apresentada naquela ocasião, esta modalidade inovadora de Orientação Profissional está inserida no conjunto dos Serviços Psicológicos Mediados por Computadores desenvolvidos pelo NPPI - Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática, o Serviço de Informática na Clínica Escola "Ana Maria Poppovic" da PUC-SP.

No entanto a retomada deste tema na Jornada da Clínica / 2004 justifica-se, na medida em que podemos relatar a significativa evolução deste programa, ocorrida desde sua criação em 2000. Agora adaptado a um novo contexto, a aplicação deste programa adquiriu maior abrangência e significado social, em função da amplitude e características muito próprias da população que passou a atender.

É sobre essa evolução atual do programa de O P que centraremos este artigo; Para um acesso às informações preliminares mais detalhadas sobre os procedimentos originais remetemos o leitor ao artigo já mencionado. Nesta apresentação situaremos apenas brevemente a vinculação do O P ao NPPI, sua autoria e objetivos gerais, passando a seguir ao relato sobre nossas primeiras observações relativas à sua evolução mais recente.

O NPPI iniciou suas atividades em 1995, com a proposta da criação da Home Page da Clínica Escola da PUC-SP . Desde então, as novas demandas geradas pela ampla difusão do uso das novas tecnologias, fizeram com que redefiníssemos os objetivos iniciais do trabalho do Núcleo, que foram ampliados, passando a abranger também o desenvolvimento de serviços psicológicos mediados por computadores.

A inclusão desses novos objetivos foi acompanhada de ampliações na composição da equipe responsável pelo setor, bem como pelo desenvolvimento e execução do Programa de O P , e de outras atividades na área de interseção Psicologia / Informática. Para mais detalhes sobre os trabalhos em andamento no Núcleo sugerimos uma visita ao nosso site e/ou um contato por meio do endereço eletrônico da Clínica Psicológica "Ana Maria Poppovic" - clinpsic@pucsp.br .

Orientação Profissional via Internet - O P - Evolução do Programa

Conforme relato anterior, este programa teve origem na recriação, em sua versão informatizada, da proposta de Orientação Profissional apresentada pela Professora Maria Elci Spaccaquerche em seu livro O que Você Vai Ser Quando Crescer ? - Ed. De Leitura, São Paulo, 1999. Participaram de seu planejamento original, além da própria Profa. Maria Elci, a Professora Rosa Maria Farah, como coordenadora do NPPI, e também, como orientadores dos primeiros grupos de jovens, os psicólogos Ivelise Fortin de Campos e Paulo Anunzziata Lopes. O desenvolvimento técnico do ambiente virtual programa é fruto de colaboração com a COGEAE - Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão da PUC-SP, setor responsável pelos projetos de educação à distância em nossa universidade.

Em termos gerais, este serviço tem como proposta a orientação de pessoas que necessitem fazer uma reflexão sobre sua escolha profissional. Em sua primeira formulação o programa foi estruturado tendo como meta a orientação profissional de jovens, situados entre 16 e 20 anos de idade, incluindo não só aqueles que ainda cursam o 2o. Grau, como aqueles que já terminaram o 3º. ano do II Grau, e mais aqueles que já iniciaram uma carreira universitária, mas que não estão satisfeitos com a escolha feita até então.

Nesta segunda e atual formulação, o Programa de O P foi adaptado a uma nova população de jovens situados na faixa entre 15 e 18 anos, participantes de um programa de assistência sócio-educativa mantido por uma Instituição financeira de abrangência nacional. Em função dos critérios de seleção da instituição que promove esse programa, os jovens selecionados provêm de camadas carentes do ponto de vista sócio econômico (renda familiar abaixo de um salário mínimo). Outra característica destes jovens, também considerada em nosso planejamento, é o fato residirem em diferentes pontos do território nacional, vivenciando, portanto, diferentes realidades ambientais, climáticas e sócio-culturais.

Objetivos do Programa de O P

Esse serviço caracterizou-se, já desde sua origem, por ter uma concepção educativa, portanto profilática, do processo de escolha profissional. Pode ser definido como um sistema interativo - 'on line' - de ajuda profissional destinada aos jovens que queiram fazer uma reflexão sobre a escolha de sua carreira.

Através dos diferentes módulos, trabalhados de maneira integrada, o programa visa permitir que o usuário-internauta possa se avaliar face ao mundo das profissões, e se informar sobre as mesmas, elaborando ao final um projeto pessoal de escolha.

Nesta segunda fase do O P foram mantidos, além dos objetivos acima citados, os mesmos pressupostos bem como "etapas" de trabalho e espaços de interatividade já descritos anteriormente. Porém, em função das características especiais da população atendida, algumas adaptações metodológicas e de conteúdo foram introduzidas.

Outro dado novo foi o número de jovens a serem atendidos nesta segunda fase: A solicitação de atendimento colocada pela instituição previu o atendimento inicial de 1000 jovens, número esse que também exigiu alguns preparos específicos por parte da equipe responsável pelo programa, tal como a elaboração cuidadosa de um cronograma específico de sua aplicação, além da capacitação de novos profissionais para sua execução.

Do ponto de vista do conteúdo, a instituição solicitou ainda, que ao longo do Programa pudessem ser trabalhados junto aos jovens os aspectos de "Ética e Cidadania" relacionados à postura do profissional. Para o atendimento dessa solicitação foi integrado um novo módulo ao Programa, com base em contos, fábulas e histórias que visam estimular a reflexão dos jovens sobre temas como: liberdade, responsabilidade, onipotência, direitos e deveres. Esta atividade também é trabalhada por meio dos recursos informatizados.

Capacitação da Equipe

Conforme já foi apontado, a criação deste trabalho demandou o empenho conjugado de vários profissionais, bem como a integração de diferentes recursos e competências, cada uma delas contendo suas especificidades: Inicialmente envolveu a adoção de uma concepção diferenciada do processo de Orientação Profissional, concepção essa embasada na sólida experiência prévia da profa. Maria Elci ao longo de décadas de dedicação a essa área, em consultório e em escolas; Por outro lado, o trabalho conjunto com profissionais integrantes do NPPI, familiarizados com a Orientação Psicológica via e-mail, permitiu a idealização da transposição dessa metodologia de O P para sua versão on line, com suas nuances e características muito particulares.

Essencial também, nas duas fases de sua execução, foi o desenvolvimento das plataformas nas quais vem sendo veiculado o Programa, providência essa para qual contamos com a experiência anterior da COGEAE nas atividades de Educação a Distância. Finalmente, ainda que seu planejamento fosse acurado, a aplicação do Programa em sua segunda fase - para um grande grupo de orientandos - demandaria ainda mais uma condição essencial, ou seja, para sua aplicação em tal condição o Programa deveria contar com uma equipe de orientadores duplamente qualificados: tanto em O P, quanto em atendimento psicológico mediado por computadores.

Dado o caráter pioneiro dessa modalidade de intervenção em Psicologia, não existiam, a priori, profissionais em número suficiente previamente qualificados para essa dupla função. Assim, para atendermos a condição exigida nessa segunda fase foi necessária a realização de uma etapa de qualificação e treinamento de outros psicólogos, componentes da equipe do NPPI, portanto já afeitos às especificidades da comunicação mediada por computadores, bem como familiarizados com a realização de orientação psicológica via e mail. Esse processo de capacitação foi realizado durante dois meses (janeiro e fevereiro de 2003), em paralelo ao à execução do trabalho de adequação do Programa original à população para a qual se destina atualmente. Assim, esses profissionais participaram também de sua recriação, condição essa que fortaleceu a consistência de sua futura participação na função de Orientadores dos grupos do O P.

Sobre o acesso dos jovens ao Programa

No caso do Programa original, aberto na Internet, os grupos foram formados mediante abertura de inscrições em períodos pré-definidos, via COGEAE, que também foi responsável pela definição de valores e forma de pagamento pelo serviço. Nesta segunda e atual fase do O P, a COGEAE / PUC-SP é também a intermediária e responsável pelo estabelecimento de contrato com a Instituição solicitante, sendo que à nossa equipe couberam as funções intrínsecas ao desenvolvimento do trabalho, ou seja: o planejamento de sua concepção, desenvolvimento da metodologia, seleção e capacitação dos profissionais de psicologia para atuarem como Orientadores, e a supervisão dos trabalhos ao longo de sua execução. Nesta atual etapa, portanto, portanto, o acesso dos jovens ao Programa é propiciado pela Instituição que nos solicitou a aplicação do Programa, sendo também, ela mesma, responsável pela seleção dos orientandos, e seu encaminhamento ao O P. A mesma instituição é quem propicia também, aos jovens, os meios e recursos de acesso ao instrumental (computadores e acesso à Internet) necessários à sua participação.

Tempo de duração

O planejamento do programa propõe o tempo mínimo e máximo para sua realização. O tempo mínimo é definido por assumirmos que os processos de reflexão envolvidos nas atividades exigem uma maturação da elaboração subjetiva, durante a execução das tarefas. Por outro lado, a condição grupal das atividades do Programa, bem como a estruturação dessas mesmas atividades, pressupõe também um tempo máximo para sua execução e finalização. No caso dos grupos em andamento esse tempo está definido entre cinco e seis semanas, sendo que o acesso ao site permanece aberto para cada grupo por, no mínimo, seis semanas.

Aspectos Éticos

O Programa de O P é realizado dentro das normas estabelecidas na resolução 003/2000, de 25 de setembro de 2000, pelo Conselho Federal de Psicologia que regulamenta o atendimento psicológico mediado por computadores. De acordo com o artigo 5o. dessa resolução é reconhecida e autorizada pelo CFP a realização de diversas formas de "orientação psicológica" através de meios eletrônicos, inclusive a Internet, desde que sejam observadas as normas éticas detalhadas no texto da própria resolução. A íntegra desse documento pode ser acessada no endereço eletrônico do Conselho Federal de Psicologia: http://www.pol.org.br/normatizacao/legislacao.cfm

Grupos já realizados

A primeira fase do Programa de O P - na Internet aberta - foi veiculada em agosto de 2000, com a realização de um grupo piloto composto por 12 participantes. Em seguida aconteceram mais dois grupos de 10 jovens em cada um deles. A partir de dezembro de 2000 o programa passou por um reajuste, tendo sido reaberto novamente em junho de 2001. No segundo semestre de 2001 aconteceram mais três grupo num total de 24 orientandos. Portanto, o total geral de participantes na primeira fase do Programa de OP foi de 56 orientandos distribuídos em 6 grupos.

Em sua segunda e atual fase o Programa está sendo aplicado a uma população que se constitui em um total de mil adolescentes, distribuídos em vários pontos do nosso país. Para a realização do atendimento esses jovens são reunidos em turmas de aproximadamente trinta componentes, sendo que a cada seis semanas são atendidas quatro turmas simultaneamente - portanto a cada seis semanas são atendidos cerca de 125 adolescentes. A equipe de trabalho atual é composta por oito profissionais psicólogos: dois deles atuando como Coordenadores, quatro Psicólogos Orientadores e mais dois Psicólogos responsáveis pela coleta e registro dos dados. Participam também, nas tarefas de suporte e manutenção técnica do Programa, os componentes da equipe da COGEAE. Dentro dessa estruturação, o atendimento do total de mil jovens, iniciado em abril de 2003 deverá ser finalizado até meados de 2004.

Algumas observações sobre o aproveitamento dos jovens atendidos

Durante a primeira fase de aplicação do O P na Internet aberta a atenção da equipe concentrou-se na análise qualitativa individualizada das respostas dos jovens frente às atividades parciais e finais do processo, visando sempre o aprimoramento de sua eficácia.

Porém, na sua fase atual de aplicação estamos diante da oportunidade de uma coleta de dados numericamente mais significativa, dados esses que deverão receber uma avaliação acurada, a ser apresentada oportunamente. Mas, podemos desde já adiantar que, com essa coleta, interessa-nos não apenas realizar a aferição quantitativa sobre a eficácia do Programa. Nosso interesse tem sido muito aguçado, também, no sentido da análise sobre o registro de várias outras características da população atendida; Por exemplo, as espontâneas e inesperadas manifestações paralelas dos jovens atendidos têm sido muito reveladoras sobre suas vivências e visões de mundo. Visando a elaboração de desses aspectos paralelos, presentes nas falas dos adolescentes, faz parte das atividades da equipe de orientadores o registro (em cópias do tipo "back up") dos dados relativos às realizações dos orientandos, bem como sua gradativa análise.

Assim, embora esta segunda fase da aplicação do Programa ainda se encontre em uma etapa intermediária de sua execução, podemos adiantar aqui algumas observações e hipóteses parciais já formuladas pela equipe.

Características regionais da população

Devido à abrangência do programa (há participantes residentes em todas as regiões do país), os dados coletados estão possibilitando o registro de importantes diferenciações quanto à caracterização dos jovens de cada região.

Percebemos diferenças importantes no grau de idealização das profissões: Em algumas regiões, o contato com as dificuldades reais de cada profissão é menor, e as escolhas são feitas mais em função de uma imagem que se faz da profissão, do que pela m s características reais de sua rotina e das oportunidades de mercado que a profissão apresenta.

Outra diferença aparece nas expectativas de futuro: Parece que os jovens dos grandes centros (em contato diário com a violência e com as dificuldades de inserção no mercado de trabalho) se mostram mais desesperançosos em relação ao futuro. Aparecem diferenças importantes também na possibilidade de abstração, ao realizarem as atividades de "Ética e Cidadania", bem como na habilidade apresentada para a expressão escrita.

Obviamente, fatores e características pessoais também influenciam nessas diferenças, mas temos percebido que o meio social tem um importante papel no desenvolvimento escolar e pessoal desses jovens, já que as diferenças regionais são bastante importantes.

Expressividade verbal característica

No que diz respeito à expressividade verbal dos jovens percebemos que, em sua grande maioria a escrita se dá de forma muito semelhante ao uso da língua falada, ou seja, eles escrevem como falam, não havendo muita preocupação com a estrutura da língua escrita, ou com a gramática e/ou ortografia.

Algumas hipóteses foram pensadas pelo grupo: a primeira diz respeito à expressividade característica do adolescente que, na busca por uma identidade (grupal e individual), procura refletir no modo como escreve seu modo particular de ser e de ver o mundo.

A expressão mediada pelo computador também propicia novas grafias, abreviações, ou palavras que em alguns momentos aparecem no programa. Mas, como a grande maioria dos jovens inicia seu contato com o computador durante o próprio programa, eles não apresentam muitos dos "vícios de linguagem" típicos da era da informática.

Outro fator que parece influenciar a expressão desses jovens, diz respeito ao conhecimento formal da língua. Eles vêm de classes sociais desfavorecidas, onde o acesso à leitura é muitas vezes bastante restrito, e a qualidade do ensino, em geral, não é suficiente para o alcance de um conhecimento (e treinamento) mais aprofundado do uso da comunicação escrita.

Estruturação familiar

Na Etapa 1 do Programa, onde procuramos conhecer melhor o jovem e fazer com que ele também se conheça mais, procuramos levantar dados sobre a estruturação familiar de cada um deles. Temos percebido que o conceito tradicional de família nuclear (pai, mãe e filhos) muitas vezes não condiz com a realidade desta população. Muitos vivem também com outros membros da família estendida (avós, tios, sobrinhos e primos), só com pai ou mãe, ou mesmo só com os irmãos.

No entanto, é curioso notar que os pais, mesmo com todas as mudanças que a estrutura familiar tradicional vem sofrendo, continuam sendo importantes modelos profissionais e de conduta dos seus jovens. Muitos destes jovens ainda se espelham nos valores e nas características familiares para escolher a profissão e para atuar no mundo.

"Idealismo" / Interesses / Preferências

No que diz respeito às profissões mais procuradas (ou seja, aquelas mais "desejadas") pelos jovens, ainda estamos em processo de sistematização dos dados quantitativos, mas já podemos fazer algumas observações parciais. A grande maioria dos jovens demonstra interesse por cursos universitários e, mesmo quando começam a entrar em contato (através dos sites e dos comentários dos orientadores) com a possibilidade de fazer cursos técnicos e tecnológicos, o interesse por cursar uma faculdade se mantém.

Os cursos mais desejados são Medicina e Administração. Mas podemos também observar que, por um lado, existe uma forte idealização da profissão de médico: as informações que possuem sobre a quantidade de estudo, as habilidades e o investimento necessários para se formarem nesta profissão são poucas. Por outro lado, a experiência prática no dia-a-dia do banco parece influenciar uma quantidade significativa de jovens a atuar na área mais administrativa. Muitos citam o início do trabalho no banco como um momento fundamental para o surgimento dos primeiros questionamentos sobre a escolha profissional.

Os orientadores procuram, a partir da produção dos jovens, incentivar e orientar a pesquisa sobre as profissões e sobre os gostos e habilidades de cada um para que, deste modo, eles possam fazer uma escolha responsável e, se possível, prazerosa.

Expressão inesperada de Religiosidade

É interessante perceber que a grande maioria dos jovens tem alguma religião, e é praticante. As religiões mais citadas são a católica e as evangélicas. Parece que a religião tem um papel importante na construção de valores desses jovens, pois além dessa expressão de religiosidade aparecer no momento do programa onde há uma pergunta específica sobre o assunto, ela permeia muitas outras atividades. São constantes as referências à importância da fé e do culto religioso e aos modelos religiosos (Jesus, Deus, etc).

Acesso e/ou exploração dos recursos informatizados

Percebemos que, além do benefício direto da orientação profissional propriamente dita, muitos desses jovens iniciaram seu contato com a Internet - ou até mesmo com o computador - através do programa de O P. Parece que, por ser uma população freqüentemente carente desse tipo de recurso, essa experiência está possibilitando a inclusão desses jovens no mundo da informática.

Mesmo aqueles que já tem algum conhecimento, podem se familiarizar mais com os recursos de interatividade ("chat" e fórum), e aprofundar sua habilidade de pesquisa, pois além do programa ser oferecido via computador, boa parte da pesquisa sobre as profissões é feita também através da Internet (visitas aos sites indicados).

Intensidade do contato estabelecido intra-grupo à Chat aberto

Como dissemos acima, muito desses jovens vão ter, no programa, algumas de suas primeiras experiências de interatividade via Internet. Provavelmente por esse encantamento com a novidade, e também por se tratar de uma população de adolescentes, fase onde existe uma busca constante da própria identidade através do grupo, as trocas que eles fazem nos "chat"s são muito intensas. Tais trocas vão muito além das informações sobre as profissões, ou mesmo sobre a vivência da escolha profissional. Eles trocam informações sobre suas vidas, sobre as diferenças regionais, desejam se conhecer melhor, e ainda brigam e/ou namoram, etc.

Nos horários reservados para o "chat" com os orientadores, existe uma tentativa da equipe de direcionar o bate-papo no sentido de priorizar-se as questões relacionadas ao processo de escolha profissional e sobre o conhecimento das profissões. Mas a ânsia dos jovens por trazer outros assuntos de seu dia-a-dia - e por trocar suas experiências de vida - continua bastante presente.

Mobilizações frente ao módulo sobre "Ética"

Como dissemos anteriormente, as atividades de "Ética e Cidadania" foram criadas com base em contos, fábulas e histórias que visam estimular a reflexão dos jovens sobre temas como: liberdade, responsabilidade, onipotência, direitos e deveres. A partir das respostas destes adolescentes pudemos perceber que, em muitos casos, existe certa dificuldade na abstração dos conceitos. Muitas das respostas se dão num nível mais concreto do que o inicialmente esperado.

Por outro lado, existe uma grande valorização por parte dos jovens das atividades de "Ética e Cidadania". A partir da avaliação dos próprios jovens, pudemos perceber que, mesmo que aparentemente nossas expectativas iniciais com relação a seu "desempenho" não tivessem sido alcançadas, as reflexões que cada um faz (alguns com mais profundidade, outros nem tanto) dentro das suas possibilidades pessoais e sociais, acabam sendo muito produtivas, pois possibilitam um "pensar sobre" essas questões que antes não encontravam espaço e nem investimento para acontecer.

Retornos espontâneos dos jovens aos orientadores (manifestação de carências?)

Uma resposta a este trabalho que muito nos surpreende é a quantidade de retornos e contatos de caráter intensamente afetivo que acabam acontecendo dos jovens para com os orientadores. Eles querem ter mais informações sobre os orientadores, querem "ficar amigos" e agradecem muito a atenção e o cuidado que receberam. Esses contatos aparecem em forma de mensagens no Fórum e depois ainda se repetem na Avaliação Final que é feita pelos jovens.

Uma das hipóteses levantadas pela equipe é que, possivelmente, essa ânsia por um contato mais afetivo e próximo seja decorrente de uma carência de recursos sociais, de apoio familiar e de oportunidades de ter uma atenção individual que valoriza as potencialidades desses jovens.

Relevância secundárias - social / educativa / afetiva

Temos percebido que o objetivo inicial de orientar profissionalmente esses jovens está, na prática, alcançando uma abrangência muito mais ampla. Parte dessa abrangência era esperada, em decorrência da própria proposta e formato em que o Programa foi concebido e construído. Ainda assim, sob alguns aspetos as respostas dos jovens tem sido surpreendentes para equipe.

A possibilidade de orientarmos jovens distribuídos por todo o país (desde grandes centros urbanos, até cidades pequenas e relativamente isoladas), vivendo em condições socioeconômicas de modo geral restritas, e numa quantidade relevante (mil jovens), nos faz pensar no importante papel social que este programa tem conseguido alcançar. As possibilidades de inclusão no mercado de trabalho (e por conseqüência, a inclusão social) aumentam quando esses jovens refletem sobre seu futuro de um modo mais estruturado, real e prazeroso, como é proposto no programa. Ao conhecer (ou se habituar) aos novos meios de comunicação, essa inclusão também é facilitada.

Outro importante ganho diz respeito ao aprendizado do processo de escolha. A discussão sobre profissões possibilitada pelo programa instrumentaliza os jovens a fazerem escolhas de modo geral: aprendem a pesar prós e contras, a se observarem e avaliarem o real (pareando seus desejos e possibilidades concretas), a buscar conhecer mais aquilo que se vai escolher, e por fim, a abrir mão de algumas das possibilidades aventadas. O escolher, para o adolescente, é fonte de muita angústia. Experimentar esse processo de um modo mais organizado e, ao mesmo tempo, com uma postura ativa, é facilitador desse aprendizado para outras áreas de sua vida.

Além da relevância social e educativa que o programa tem alcançado, as trocas de experiências de vida, de apoio e de informação entre os jovens - e dos jovens com os orientadores - tem possibilitado a abertura de um campo bastante rico de manifestações afetivas. Nesse espaço, os jovens apresentam reações das mais diversas (como não poderia deixar de ser quando se fala de afetos): desde reações de maior agressividade, de tristeza e carência até demonstrações apoio, maturidade e amizade.

Os orientadores, dentro dos limites da comunicação via Internet e dos objetivos do programa, oferecem (via Fórum, "chat" e mensagens individualizadas) o retorno para esses conteúdos de caráter mais afetivo que aparecem no decorrer do período das seis semanas. Em alguns casos, essa atenção disponibilizada pelos orientadores (e também pelos outros jovens) aos afetos de cada um produz interessantes respostas e reflexões.

Os resultados apresentados, tanto no que diz respeito à escolha profissional propriamente dita, quanto a esses outros ganhos que somente no decorrer do programa foram percebidos mais claramente, são um importante incentivo para a equipe continuar refletindo e, com isso, aprimorar a "ferramenta", e a metodologia deste trabalho de orientação mediada pelo computador.