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BOLETIM CLÍNICO - número 18 - setembro/2004

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos



21. Trabalho: Associabilidade e Dificuldades de Aprendizagem: Contribuições Clínicas sobre o Processo do Atendimento de uma Criança de 9 Anos

Resumo: Relato de caso, em que a atendimento psicoterápico, psicopedagógico e a orientação de pais mostrou-se como imprescindível na adaptação social de uma criança de 9 anos.

Introdução

O processo de socialização depende do movimento de progressão do princípio de prazer para o princípio de realidade, isto é, a realidade tem que ser testada e separada dos produtos da fantasia, antes que a realização de desejos por meios de alucinação seja abandonada em favor da ação intencional.

A criança deve começar a estabelecer um raciocínio onde perceba a diferença de um desejo instintivo do id e do comportamento que visa sua satisfação, isto é, distinguir as vontades do id e do ego. Segundo Anna Freud, os principais mecanismos do Ego que atuam como promotores da socialização são: a imitação, a identificação e a introjeção. Ao imitar os pais, as crianças conseguem ver-se no papel das figuras das quais admiram.

Identificação

Paciente do sexo masculino, identificado como A. iniciou os seus atendimentos com 8 anos, atualmente com 15 anos. É morador de Taboão da Serra-SP, com a mãe e uma irmã dois anos mais velha.

Histórico familiar

Os pais são separados. A mãe tem Três filhas mais velhas que A. Entretanto, apenas a mais nova mora com a mãe e com o irmão. O pai foi proibido de visitar as filhas por ordem da Justiça, por tentativa de estupro.

Anamnese

A. não foi desejado. Descobriu que estava grávida na semana que o marido fugiu com outra mulher. Retornando para casa quando A. estava com dois anos.

A mãe diz não ter sentido nada durante a gestação, "não enjoou e nem vomitou, apenas ficou inchada" (Sic). Foi ao médico pela primeira vez com 7 meses de gestação. O parto antecedeu 5 dias ao esperado, entretanto não teve contrações. Diz achar que A. chorou logo, mesmo não lembrando por quanto tempo.

A mãe começou a dar mamadeira com 15 dias, amamentou até 2 meses, diz que a criança enjoou e parou de mamar. Relata que estava procurando emprego na época e que por isso precisou dar mamadeira.

Não existem dados precisos quanto ao desenvolvimento motor e desenvolvimento da linguagem, pois a mãe relata que foi outra pessoa que cuidou dele nesta fase.

A mãe, a irmã mais nova e A. dormem no mesmo quarto; A. dormia na cama com a mãe até o final de 1998.

Resumo da História Clínica e Escolar

A mãe procurou a clínica da PUC-SP, onde o psicodiagnóstico teve início em agosto de 1998. Chegou com indicação para psicoterapia pelo Conselho Tutelar do Menor devido ao seu comportamento agressivo. Neste mesmo ano, estudou em uma escola estadual próxima a sua residência, ameaçou a diretora com uma lança de portão, foi levado de camburão e expulso da escola.

Em 1999 teve iniciou o atendimento psicológico. Estudou neste ano em uma pré-escola particular próxima a sua residência, permanecendo o dia inteiro.

Em 2000, continuamos o atendimento Psicológico e iniciou-se o atendimento Psicopedagógico. A escolinha que freqüentava teve problemas financeiros e fechou no início do ano. A. é uma criança agitada e que requisitava a professora a todo o momento, assim orientamos a mãe para que não o colocasse em uma escola até que possuísse as mínimas condições de convivência. Passando o dia sozinho em casa, começou a andar com outros garotos e a cometer pequenos delitos. É ameaçado de morte por moradores da região com apoio da polícia. Foi morar com a irmã mais velha em outro bairro de São Paulo, casada e grávida.

Em 2001, prosseguimos o atendimento Psicológico e o Psicopedagógico, com mudanças de psicopedagoga. A. voltou a morar com a mãe, intimada pelo Conselho Tutelar por deixar o filho fora da escola.

O Conselho Tutelar interveio, e colocou-o novamente na escola estadual próxima à sua residência em uma 1ª série e consegue uma vaga para Equoterapia. Após uma semana de aula, começou a cobrar pedágio das crianças, o que acarretou na sua mudança para a 3ª série. Neste série, provocou pequenas intrigas logo de início. A escola interveio montando uma brinquedoteca, colocando-o como responsável. Um dia, teve uma discussão com um garoto da sala, perdeu o controle e destruiu a sala; a escola ficou assustada com o seu comportamento agressivo. Comovida, a diretora começou a levá-lo para um centro espírita nos dias dos atendimentos psicoterápico e psicopedagogico intervimos e ela desiste sem dar satisfação a A.

O Conselho Tutelar de Taboão da Serra encaminha A. para o Conselho Tutelar da Lapa que o encaminha para uma escola próxima ao serviço da mãe. No primeiro dia de aula a diretora deixa claro para a mãe que não iria tolera-lo, que só estava aceitando por causa do Conselho. A. recusa-se a entrar na escola e não retorna mais.

Em 2002, A. prossegue em atendimento psicológico, psicopedagógico e a mãe inicia um trabalho de Orientação de pais na Clínica da PUC. A assistência social consegue vale alimentação no restaurante da PUC para os dias que A. vai à clinica. Conseguimos uma escola próxima ao serviço da mãe. A. começa a estudar em uma 3ª série. A professora é rígida e consegue controlá-lo durante as aulas, mesmo assim começa a dar alguns problemas no recreio.

Em 2003, prosseguimos com o atendimento Psicológico e Psicopedagógico. A. inicia o Supletivo noturno. A mãe, para poder acompanhá-lo volta a estudar. Realiza cursos profissionalizantes: Marcenaria e Tapeçaria.

Em 2004, recebe alta do atendimento psicológico, observamos uma melhora em seu comportamento o que possibilitou que freqüentasse uma escola, convivesse em uma sociedade e realizasse outras atividades sociais. Assim, consideramos desnecessária a continuidade do atendimento psicoterápico.

Entretanto, ainda apresentada dificuldades ligadas à aprendizagem, continuando atualmente em atendimento Psicopedagógico e em atendimento Fonoaudiológico na DERDIC.