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BOLETIM CLÍNICO - número 4 - agosto/1998

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos

4. Ritmo Respiratório Relaxador: um recurso terapêutico - Efraim Rojas Boccalandro(1)

Durante vários anos, procurávamos uma freqüência respiratória que conduzisse ao relaxamento.

Mesmo tendo tido conhecimento da prática respiratória YOGA, chamada Pranayama, nos textos que lemos, não encontramos a medida de tempo que deveria ser usada na respiração, para chegar ao relaxamento.

Precisou aparecer uma sincronicidade para que nós chegássemos a ter a noção da freqüência respiratória, que leva ao relaxamento.

Procurando livros que nos interessavam, na livraria de um amigo no Rio de Janeiro, vimos numa das prateleiras o livro "Tablas Biorrítmicas" de Vélez Rojas. Tiramos o livro da prateleira e o abrimos. Na página aberta, encontramos o seguinte:

"La relación entre ritmo cardíaco y ritmo respiratório és de 4:1".

Compramos o livro, mas na verdade nem precisaria, pois a única informação que nos interessava era a da relação entre ritmo cardíaco e ritmo respiratório.

A partir dessa relação ritmo cardíaco e respiratório, colocamos como hipótese que, o ritmo cardíaco "normal" deveria ser de 60 batimentos por minuto, que na Física corresponde à batidas de um pêndulo por minuto, a nível do mar.

Colocando essa hipótese, teríamos que 60 está para X, como 4 está para 1. O X, que é a freqüência respiratória correspondente a 60 batidas cardíacas por minuto, é 15.

Isso quer dizer que, 15 respirações completas(inspiração e expiração) correspondem ao ritmo cardíaco de 60 sístoles e diástoles.

A respiração humana é realizada de forma involuntária e também voluntária. Enquanto que o batimento cardíaco, na maior parte das pessoas, é só involuntária.

Para conseguir 15 respirações completas em 1 minuto, sem detenção respiratória, é necessário que se inspire em 2 segundos e se expire em 2 segundos.

A segunda hipótese de trabalho que colocamos é:

"Se respirarmos durante alguns segundos no ritmo de 15 respirações completas por minuto, dada a cinergia entre ritmo cardíaco e respiratório, conseguiremos atrair um ritmo cardíaco que esteja acima de 60, para um ritmo próximo de 60 batidas por minuto."

Essa hipótese foi experimentada com uma cliente, que estava em véspera de prestar Vestibular para Medicina. Ela veio ao nosso consultório com um batimento cardíaco de 132 por minuto.

Ensinamos a essa cliente a respiração "abdominal", solicitando que fixasse sua atenção num ponto do abdômen intermediário entre o fim do osso esterno e do umbigo.

Dessa maneira, deveria comandar o abdômen desde esse ponto, inspirando uma quantidade de ar que não chegasse a encher completamente seu peito. E soltando mais ou menos a mesma quantidade de ar, poderia respirar dessa forma, sem sentir qualquer mal-estar. A quantidade de ar inspirada e expirada deve estar entre a quantidade máxima de uma inspiração profunda e o menor volume de ar de uma inspiração superficial.

Para manter a contagem de tempo de dois segundos para inspirar e de dois segundos para expirar, contamos "Um, dois, três, cat" em dois segundos, para inspirar, e "Um, dois, três, cat" em dois segundos, para expirar.

Esse movimento respiratório deve ser feito de olhos fechados, estando a pessoa comodamente sentada, com a cabeça apoiada no respaldo da cadeira ou poltrona ou deitada.

A contagem é feita "Um, dois três, cat", porque se falássemos quatro, estaríamos colocando 3 palavras monossílabas e uma dissílaba. E isso atrapalharia a manutenção da seqüência numérica, para ter sempre dois segundos na contagem.

Com nossa primeira cliente, fizemos a experiência para determinar se realmente uma freqüência respiratória de 15 respirações completas por minuto atrairia o coração a bater mais próximo de 60 batidas por minuto.

No início da experiência, tomamos a pulsação da cliente, que era de 132 batimentos por minuto. Depois de 10 minutos de respiração no "Ritmo Respiratório Relaxador", tomamos o pulso e estava a 110 batidas por minuto.

Numa segunda sessão, três dias depois, iniciamos o trabalho com a tomado do pulso. Estava a 115 batimentos por minuto. Depois de 10 minutos de respiração no "Ritmo Respiratório Relaxador", a pulsação era de 92 batimentos por minuto.

Depois disso, a cliente prestou o exame Vestibular e voltou à consulta, quinze dias depois da primeira experiência.

Nessa oportunidade, tomamos a pulsação no início da sessão. Era de 90 batidas por minuto. Depois de 10 minutos de respiração no "Ritmo Respiratório Relaxador", a pulsação era de 86 batidas por minuto.

Não pudemos continuar o atendimento dessa cliente, porque ela foi aprovada no concurso de Medicina em Santos e mudou-se para lá.

Muito entusiasmado com o resultado dessa primeira experiência, continuamos a utilizar o "Ritmo Respiratório Relaxador" com clientes em processo de psicoterapia.

Continuamos tomando o pulso do cliente no início da sessão e depois de 10 minutos de Respiração Relaxadora, observando queda no batimento cardíaco, que aproximava os batimentos médios entre 72 e 80 batimentos por minuto a uma freqüência de 64 a 68 batimentos por minuto.

Entre os clientes atendidos no consultório, dos quais tomamos o pulso, não encontramos nenhum portador de bradicardia.

Como sabemos, existe uma relação de cinergia entre todos os órgãos do corpo. Assim, quisemos dar um passo a mais indagando se o "Ritmo Respiratório Relaxador", que tinha conseguido uma diminuição dos batimentos cardíacos, também estaria agindo sobre o Sistema Nervoso Central.

Sob o ponto de vista do ritmo cerebral, considera-se que uma pulsação neuro-elétrica do cérebro da ordem de 8 a 10 pulsações por segundo constitui o ritmo cerebral de relaxamento, também chamado de Ritmo Alfa.

Solicitamos a colaboração do Serviço de Eletroencefalografia da Clínica Psicológica da PUC-SP para realizar uma investigação que evidenciasse se o "Ritmo Respiratório Relaxador" consegue mudar o ritmo cerebral, para uma freqüência de Ritmo Alfa.

A pessoa que convidamos para participar da experiência era um adolescente de 13 anos que estávamos atendendo em psicoterapia e a quem tínhamos treinado, durante 6 sessões de terapia, no "Ritmo Respiratório Relaxador".

O resultado da aplicação do Eletroencefalograma inicialmente, sem o adolescente utilizar o "Ritmo Respiratório Relaxador", mostrou o ritmo de vigília comum. Depois de 10 minutos de Respiração Relaxadora, o seu ritmo cerebral estava em 10 ciclos por segundo.

Infelizmente, quando tentamos realizar a segunda experiência, o eletroencefalógrafo estava com defeito e não houve possibilidade de realizá-la.

O conserto do aparelho demorou alguns meses e quando estava em condições de uso, nós já estávamos desenvolvendo um outro projeto de pesquisa. Isso nos tirou o tempo necessário e o interesse em continuar a investigação da relação entre "Ritmo Respiratório Relaxador" e Ritmo Cerebral.

Mas nem por isso deixamos de utilizar o "Ritmo Respiratório Relaxador" em nosso trabalho de psicoterapia. Depois de utilizá-lo durante uns 15 anos, podemos afirmar que o "Ritmo Respiratório Relaxador" é um recurso de relaxamento fácil de ser aprendido, que tem um efeito relaxador após 5-10 minutos de utilização.

E agora, estamos com esta publicação, oferecendo aos psicoterapeutas interessados, não só como recurso terapêutico, mas também para pesquisas sobre seus efeitos no organismo como um todo.

Não queremos terminar essa apresentação do "Ritmo Respiratório Relaxador", sem demonstrar como é possível utilizá-lo juntamente com processos de "Visualização Psíquica".

Muitos psicoterapeutas utilizam a "Visualização Psíquica" como instrumento para dinamizar a terapia. É muito conhecida a "Imaginação Dirigida" de Jung, que foi retomada por Roberto Assagioli, no processo denominado por ele de "Psico-síntese".

Dentro do nosso trabalho terapêutico, temos utilizado vários tipos de visualizações, que têm sido muito úteis para dirigir energias psíquicas para metas/objetivos que o próprio cliente determinou.

A imagem psíquica, dentro de um processo consciente de concentração de energia, para uma finalidade considerada relevante pela própria pessoa é, por assim dizer, o elo de ligação entre uma energia psíquica e seu correspondente somático.

A esse processo de ligação entre imagem psíquica e corpo, deu-se o nome de transducção. Nome que infelizmente significa até hoje um caminho para pesquisas e não um ponto de chegada de conhecimentos sobre a realidade psicossomática social.

Vamos apresentar aqui um tipo de visualização que está ligada aos 4 estados de movimento: Sólido, Líquido, Gasoso e Plasmático.

Esses 4 estados de movimento constituíam, na Antigüidade, os 4 elementos: Terra, Água, Ar e Fogo. Que na sua inter-relação formariam o Macro e o Microcosmos.

VISUALIZAÇÃO DO ESTADO SÓLIDO-TERRA

Depois da fase inicial de relaxamento, damos à imaginação do cliente a seguinte direção:

"De olhos fechados, visualize a si mesmo".

"Veja-se caminhando por um campo. Veja árvores, arbustos, pastos. Tudo verde, tudo agradável".

"A trilha que você percorre leva-o à entrada de uma caverna".

"Você entra na caverna e começa a descer uma rampa suave".

"Você continua penetrando na caverna e, olhando para trás, a entrada vai ficando pequena".

"Você encontra um pequeno rio e sente a água um pouco mais fria que seus pés, até a altura dos tornozelos".

"Depois do riacho, você volta a andar no chão da caverna. Sua atenção é chamada para um pequeno filete de luz que ilumina uma pedra".

"Nessa pedra mal iluminada, distingue-se uma fisionomia que chega a completar-se como um personagem".

"Converse com esse personagem. Guarde na memória a conversa".

"Quando você sentir que está na hora de voltar, volte pelo mesmo caminho".

"Volte para esta sala".

"Quando quiser, abra os olhos".

"Se quiser compartilhar comigo a vivência, fique à vontade".

VISUALIZAÇÃO DO ESTADO LÍQUIDO-ÁGUA
"De olhos fechados, visualize a si mesmo. Você está na praia, num dia de sol claro, céu azul, com nuvens brancas, muito brancas. O mar é calmo, fazendo apenas pequenas manobras. Você sente vontade de entrar na água tranqüilo, confiante. Você vai penetrando na água, andando. E quando a água está na altura do seu pescoço, você mergulha e sente em todo o corpo o contato com a água, que está à temperatura do seu corpo".

"Você abre os olhos dentro da água e a beleza das algas verdes e pequenos caracóis o levam a querer continuar mergulhando nessa água. Você não precisa respirar embaixo d'água, por isso você continua indo cada vez mais fundo. Assim você consegue chegar até um "Palácio de Coral". Dentro do Palácio, sentado num carro puxado por cavalos com cabeças de serpentes está Netuno, o Senhor das Águas".

"Converse com ele e guarde na memória o que conversou".

"Depois da conversa, volte pelo mesmo caminho. Chegue novamente na areia da praia".

"Volte a essa sala e abra os olhos".

"Se quiser compartilhar comigo a vivência, fique à vontade".

VISUALIZAÇÃO DO ESTADO GASOSO-AR
"De olhos fechados, visualize a si mesmo. Você está deitado numa rede, na varanda de uma casa colonial. Acima de sua cabeça, você vê as telhas marrom-vermelho, uma réstia de céu azul e nuvens brancas-cinzentas. Você empurra o chão com o pé e a rede começa a balançar. Uma rajada de vento mais forte empurra a rede, que solta dos ganchos e vai flutuando suavemente pelo ar".

"Olhando para baixo, você vê como a paisagem vai ficando pequena. Como a casa está cada vez menor. As árvores e o pequeno rio vão ficando cada vez menor".

"Agora você está dentro de uma nuvem. Você sente a umidade que penetra nos seus pulmões e de repente a nuvem começa, num determinado ponto, a se condensar, a tomar corpo e agora você percebe que é um personagem".

"Converse com este personagem. Guarde na memória o que conversou".

"Volte pelo mesmo caminho".

"Volte à esta sala. Abra os olhos".

"Se quiser compartilhar comigo a vivência, fique à vontade".

VISUALIZAÇÃO DO ESTADO PLASMÁTICO-FOGO
"De olhos fechados, visualize a si mesmo".

"Você está sentado em frente de uma lareira. E sente a necessidade de acendê-la. Você pega gravetos, folhas secas, pedaços pequenos de madeira, serragem. Você acende um fósforo e começa a dar início à sua fogueira. O fogo começa a ficar alto. Quando você vê que ele está firme, você coloca dentro da lareira um toco de árvore de formas retorcidas".

"Você volta a se sentar e fica observando os caprichos mutáveis do fogo. Há caminhos de fogo no toco. Estouros e chispas que pulam, batendo na grade. Aos poucos, uma parte do tronco vai se configurando como um rosto e ondulações de chamas vão delineando um corpo. Você está vendo um personagem de fogo".

"Converse com ele. Guarde na memória o que conversou".

"Volte para esta sala. Abra os olhos".

"Se quiser compartilhar comigo a vivência, fique à vontade".

Essas quatro dissertações podem ser utilizadas na seqüência da Terra ao Fogo.

Se for dentro de um processo psicoterápico, podemos interpretar cada visualização em separado. Mais tarde, quando se tiver interpretado as quatro visualizações em separado, tentamos interpretar essas quatro visualizações como se fossem uma série de quatro sonhos.

Posso afirmar que esse processo constitui um recurso que poderá ajudar a agilizar o trabalho terapêutico com clientes que dificilmente trazem sonhos às sessões e que se mostram reticentes nas verbalizações.

Nota:
(1) Psicólogo Especialista e Doutor em Psicologia Clínica da PUC-SP.